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Por um oceano mais saudável - Science Arena
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07.06.2023 meio ambiente

Por um oceano mais saudável

É fundamental entender que a degradação do ambiente marinho afeta diretamente nossa saúde

É possível dizer que o planeta é um ser vivo? Embora essa reflexão possa ser questionável, ela é amparada pela Hipótese de Gaia, proposta pelo cientista britânico James Lovelock, que fez paralelos entre o funcionamento do planeta e o de um ser vivo. Falecido em 2022 aos 103 anos, o professor Lovelock contribuiu para a construção de um entendimento mais sistêmico do meio ambiente, o que geraria as bases para a compreensão das mudanças climáticas, suas origens e seus efeitos.

Na Hipótese de Gaia, os processos naturais que regulam o funcionamento do planeta equivaleriam aos processos fisiológicos que regulam o funcionamento do nosso corpo. Um complexo conjunto de processos bioquímicos, o metabolismo – promovido pelas diversas organelas, células, tecidos, órgãos e sistemas que compõem o corpo humano – permite que realizemos as funções necessárias à vida, como alimentação e trocas gasosas.

Mas, mais que isso, o metabolismo também gera as condições para o bom funcionamento do organismo, ou seja, um certo equilíbrio fisiológico que chamamos de homeostase. Um exemplo é a manutenção da temperatura corporal em níveis adequados para que o metabolismo ocorra.

A mesma lógica aplica-se ao planeta. Ele é um conglomerado de biomas e de ecossistemas, que interagem uns com os outros. Fatores físicos, como a temperatura da atmosfera e a qualidade da água do mar, afetam a biodiversidade, mas também as atividades humanas, como agricultura ou turismo, as quais, por sua vez, também afetam o ambiente. Dadas essas importantes conexões entre a natureza e a sociedade, cunhou-se o termo sistema socioecológico para descrever esse complexo conjunto de relações que acaba por regular as condições de vida no planeta, ou seja, por propiciar a homeostase planetária.

Quanto mais preservada a natureza e os componentes e processos ecológicos, ou seja, quanto maior a saúde planetária, maior é a sua capacidade de regulação das condições de vida no planeta. Como consequência, melhor é sua capacidade em lidar com eventuais perturbações, como aquelas ocasionadas pelas mudanças climáticas.

Novamente, a mesma lógica aplica-se ao corpo humano. Quanto menos agressões nosso corpo recebe ou quanto melhor seu funcionamento, melhor sua capacidade de reagir às doenças. Isso ficou evidente durante a pandemia de Covid-19, quando o conceito de comorbidade foi amplamente disseminado.

Doenças pré-existentes, como diabetes e hipertensão, reduziam a capacidade de muitos pacientes em lidar com os efeitos fisiológicos causados pelo coronavírus, aumentando os riscos de morte.

Oceano e a febre do planeta

As comorbidades ambientais, agressões que causamos na natureza, também comprometem o funcionamento do planeta e sua capacidade em prover benefícios para a humanidade, como fornecimento de alimento e produção de excedente de oxigênio que utilizamos na respiração celular. Um desses benefícios é a própria regulação do clima, benefício que, como os demais citados acima, depende fortemente do oceano.

Sim, o oceano é crucial para a vida no planeta. Não só porque a vida surgiu nele, mas porque ele sustenta a maior variedade de seres vivos em comparação com os ambientes terrestres. O oceano é também peça chave da homeostase planetária. E o componente que está por trás dessa capacidade de regulação é a água. Ela cobre cerca de 70% da superfície do planeta, assim como contribui com cerca de 70% da composição do corpo humano.

Uma das funções do ambiente marinho é a regulação do efeito estufa, que poderia ser relacionado à febre se o planeta fosse comparado a um ser vivo. Grande parte do gás carbônico emitido para a atmosfera, por meio do uso de combustíveis fósseis, da pecuária e de queimadas, é dissolvida no oceano. Com isso, o efeito estufa é atenuado e a temperatura do planeta acaba sendo mais baixa do que seria se esse papel do oceano não existisse.

Assim como a febre do paciente, a febre do planeta, que chamamos de aquecimento global, é um alarme que remete a ações de diferentes tipos. Ações urgentes para atenuar os efeitos da elevação da temperatura, que chamamos de medidas de adaptação, como tentar conter o efeito da elevação do nível do mar com diques ou combater as ondas de calor por meio de novas técnicas construtivas.

Isso equivaleria a internar um paciente ou tratar urgentemente os sintomas da doença com medicamentos específicos. Mas também devemos recorrer a ações estruturantes para combater as fontes do aquecimento, que são as medidas de mitigação que podem ser exemplificadas pela necessidade de redução das emissões de carbono. Isso corresponderia a mudanças significativas nos hábitos de vida, levando a uma melhora sistêmica no paciente.

A Década do Oceano

Da mesma forma que, idealmente, devemos buscar tratar um paciente de maneira holística e prevenir o surgimento de comorbidades, temos que ter a mesma atitude com o oceano e com o planeta. O fato é que o oceano está sofrendo e perdendo sua saúde.

As agressões que temos causado no ambiente marinho têm causado degradação e gerado comorbidades que estão comprometendo seu funcionamento. Estamos falando de esgoto e lixo, mas também de pesca excessiva e destruição de habitats, como praias, manguezais e recifes de coral. Isso revela que o oceano precisa de cuidados, urgentemente.

É isso que busca a Década das Nações Unidas da Ciência para o Desenvolvimento Sustentável, proposta para ser construída e vivenciada entre 2021 e 2030. É um chamado para que a sociedade conheça e valorize o oceano e se mobilize para garantir sua vitalidade.

Isso porque, como a ONU ecoa, temos um planeta, um oceano e necessitamos promover o “oceano que precisamos, para o futuro que queremos”. Nessa hercúlea tarefa de zelarmos por esse planetário ser vivo, compartilhamos o papel de médicos, mas também de pacientes que poderão definhar, junto com o planeta, como resposta da nossa aparente inação.

*Alexander Turra é biólogo, professor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP) e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Integra a Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano.

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